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culinária

À mesa, com o Saci

A SOSACI andou recebendo algumas solicitações de curiosos querendo mais informações sobre o estilo de vida dos Sacis. Entre as curiosidades, vale destacar os hábitos culinários (e etílicos) dos pernetas. Então, azeite a panela de barro, a colher de pau e o bule de ágata...
O cardápio do Saci é muito variado, mas uma equipe de saciólogos se esmerou em apontar alguns itens obrigatórios, baseados nos lugares em que passaram e nas lembranças de amigos. Quem viajou por outras bandas com certeza viu o Saci comer outras coisas.

 

No café da manhã, ele traça umas frutas, principalmente banana, e em seguida ataca um prato de mingau de fubá (é feito com leite, bem quentinho, com canela em cima). Depois faz um café ralinho, pra tomar em caneca, ou um chá de hortelã, funcho ou outro matinho. Às vezes, usa o fedegoso pra fazer “café”. Esse mato torrado e moído dá um cafezinho bom pra quem não tem grana pra comprar. Aí, acompanha a beberagem com broa de fubá, biscoito de polvilho e/ou pau-a-pique (uma espécie de broa feita com fubá, amendoim, coalhada, açúcar, uma pitadinha de sal e canela, enrolada em folha de bananeira para assar – quem não conhece pode ir a Nova Resende, no Sul de Minas, que tem até nas padarias). Às vezes, toma um mingau de araruta.

 

Antes do almoço e do jantar, ele não dispensa uma cachacinha de primeiríssima qualidade. Para acompanhar o almoço, gosta de um suco de cambuci, de goiaba ou melancia.

 

A comida do almoço e do jantar tem como base o arroz com feijão e farinha de milho. Macarrão, às vezes, mas como “mistura”, junto com o arroz e feijão. O feijão vem embaixo, depois a farinha de milho e em cima o arroz. Em cima do arroz, a(s) mistura(s): banana (crua), frango caipira ensopado, carne de porco, abóbora, couve, batata-doce, mandioca frita ou cozida, jiló, quiabo, cará, inhame, mangarito (da família do inhame e do cará), ora-pro-nobis (uma verdura que tem em Minas, você pode conseguir uma muda em Ouro Preto, Diamantina... – é uma trepadeira, cactácea, com folhas feitas como couve, sempre rasgada, nunca cortada, e que tem baba como quiabo – acredite! É verdade), carne de vaca moída, bem temperada... tudo com pimenta malagueta ou comari.

 

Saci gosta muito de salada de folha de urtiga – de preferência aquelas novinhas (elas não coçam, só o caule). Deixe-as de molho em água com vinagre e depois é só temperar a gosto. Outras comidas do Saci: 
- brotos de samambaia (prepara-se que nem quiabo)
- cambuquira (que são as flores da abobreira das quais não nascem abóboras). Elas têm uso múltiplo e o Saci as come na forma de salada, de sopa ou de recheio no omelete.
- lambari frito, bem torrado, de modo a se comer com espinha e tudo. Os bons, mesmo, são aqueles pequeneninhos, que não carecem nem de limpar. Frita-se do jeito que sai do rio. Aqui, uns pingos de limão caem muito bem. E a cachaça da boa, é claro.
- fritada de bundinha de Içá (a popular Tanajura). O acompanhamento é o mesmo indicado para os lambaris.
- Ingá, que é uma frutinha polpuda e doce que dá em vagens nas pontas das galhas. As galhas caem todas, e sempre, para dentro do rio e o Saci adora se dependurar nelas para catar. Ele, inclusive, deixar cair de propósito alguns caroços, pois Ingá e coisa que as traíras comem que é uma beleza. 

 

Além disso, um dos principais pratos apreciados pela sacizada: a paçoca de carne. É feita no pilão, com carne seca, farinha de milho, sal e temperos. Pode ser comida com feijão e arroz, além de outras misturas, ou levada em viagens, pois não estraga.

E mais algumas coisas: 
- taioba (a folha, refogada como couve - cuidado pra não pegar taioba brava); 
- trevo (isso mesmo, aquele trevinho que dá em qualquer lugar é gostoso nas saladas) 
- paçoca de amendoim - é a tradicional paçoquinha, só que feita em casa, no pilão. Ela fica uma espécie de farofa, tem que ser comida com colher; 
- suco de graviola 
- suco de maracujá (este exige um cuidado: a semente, se quebrada, tem um pó tóxico dentro. O jeito certo de fazer é não ligando o liqüidificador pra "bater" a semente, é ligando-desligando rapidamente, várias vezes, só pra descolar a polpa da semente. Depois disso, coar...) 

 

De sobremesa, rapadura, pé-de-moleque (não esses feitos com Karo e amendoim inteiro – é de rapadura derretida, misturada com amendoim moído), doce de casca de laranja, doce de cidra (de preferência com rapadura, em vez de açúcar, fica amarronzado), banana assada com canela, banana cozida com mel e canela, bananada, goiabada cascão com queijo ou frutas como goiaba, manga, juá, pitanga, gabiroba, amora do mato, cabeludinha, fruta-do-conde...Depois disso tudo, é preciso um cafezinho e um cigarrinho de palha – de preferência numa rede ou num banco virado para um lugar bonito, pra fumar calmamente, olhando a paisagem – isso depois do almoço, claro. À noite, depois do jantar, com direito ao cafezinho, o cigarro de palha é pra acompanhar um proseado, uma contação de causos (incluindo de assombração). Se tiver alguém que toque bem uma viola, melhor ainda. Entre um causo e outro, uma música. Tem que ter um bom puxador de conversa pra que cada um conte seu causo.
Ah... não se esqueça do lanche da tarde: uma espiga de milho assada ou cozida, um chá ou café com quitanda (quitanda aqui, no sentido mineiro: broas, biscoitos, roscas...).

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