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Sacis aprontam no Parque da Água Branca

Publicado em 09/09/2014

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Dia do Saci: e o Raloín?

Publicado em 20 de outubro de 2017

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31 de outubro - Dia do Saci - uma festa em construção
(Diário do Nordeste - Fortaleza-CE) - 28/10/2010

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Fortaleza, CE, Brasil, 28 de outubro de 2010
COLUNA Flávio Paiva

Um redemoinho puxa o outro

A coodenadora da Universidade Popular, da Prefeitura Municipal de Passo Fundo, Maria Augusta D’Arienzo, me conta que a partir de uma das conversas que tivemos no ano passado, por ocasião da Jornada Literária, aquele agradável e dinâmico município gaúcho realizará no próximo sábado (30) a sua primeira Festa do Saci. E como não poderia ser diferente na terra da professora Tânia Rösing e da Universidade de Passo Fundo, a sacizisse vai acontecer à base de troca-troca de livros.

Da Cidade de Goiás a educadora Lúcia Agostini me transmite a vibração de mais uma Sacyzada, ocorrida na Vila Esperança durante a Semana de Estudos e Vivências da Cultura Brasileira (14 a 18/09). Não faltaram causos e batucadas de Sacy nesse território livre que um dia o poeta Gilberto Mendonça Teles conceituou de “saciologia goiana”. A agitadora pedagógico-cultural Maria Inez do Espírito Santo, escreve do Rio de Janeiro para dizer que o Saci da Festa da Comunidade, que ela fazia com motivação inclusiva nos anos 1980, na Escola Viva de Petrópolis, se fará presente no Ceará, no dia 31.

A Sociedade de Observadores de Saci (Sosaci) segue firme em sua festa, realizada na cidade de São Luiz do Paraitinga, interior de São Paulo; evento incorporado ao calendário turístico da cidade. Débora Kikuti, observadora de Saci em Guarulhos, anima uma festa que, entre músicas, rodas de histórias e oficina de boneco de Saci, conta com atividades multimídias “folcloricantes”. Isso mesmo, eles usam graciosamente o verbo “folcloricar” para fazer integração de linguagens.

Como é de conhecimento comum, a locomoção rápida do Saci é feita em redemoinhos; e, como nas contações de histórias, um redemoinho puxa o outro. Por isso a Festa do Saci se constrói na concertação das diferenças, agregando uma brincadeira daqui, uma travessura dali, revelando o poder que temos para eleger e praticar o nosso modo de ser, enquanto sociedade miscigenada de um país continental.

A popularização da Festa do Saci, sobretudo no dia 31 de outubro, mesmo dia do “Halloween” estadunidense – uma das ideias traquinas do jornalista Mouzar Benedito – tem gerado uma participação elevada pela liberdade de cada lugar poder fazer a festa de acordo com seus desejos e condições. Como não há fórmula, nem hierarquias, a Festa do Saci não se limita a uma única emoção, nem a um só público; é uma festa da diversidade e da pluralidade.

Procurei disseminar esse construtivismo inter-regional em meu livro/cd “A Festa do Saci” (Cortez Editora) e experienciar algumas sequências recreativas em uma festa de condomínio que há três anos realizamos em Fortaleza com familiares e amigos. Essa brincadeira já resultou em um musical do Instituto Canarinho, adaptado pelo dramaturgo Rafael Martins e dirigido por Marconi Basílio; em duas monografias de graduação e no trabalho desenvolvido pelo facilitador alemão Thomas Semrau para a Formação Continuada dos Educadores Sociais, do programa “O Ceará Cresce Brincando”, que trata o brincar como um direito.

Um exemplo evidente da mutualidade na construção da Festa do Saci ocorreu no dia 20 passado, em uma conversa que tive em Messejana com brinquedistas desse programa realizado pela Associação para o Desenvolvimento dos Municípios do Ceará (Apdmce) e Unicef, e executado pelo Instituto Stela Naspolini: Socorro e Joselda (Assaré), Ângela e Lilia (Beberibe), Leopoldo e Roberto (Brejo Santo), Lúcia e Adriele (Cruz), Karolina e Rosa (Itarema), Amirles e Karla (Horizonte), Márcia e Darlene (Pedra Branca), Ledian e Evânia (Porteiras), Verônica e Rosa Maria (Quixeramobim), Maria da Glória e Alaíde (Sobral), Adriana (Tejuçuoca) e Jordeana e Elenilda (Viçosa do Ceará).

Ao falar que na Festa do Saci cada criança deve levar a guloseima que mais gosta para oferecer aos participantes, as educadoras sociais colocaram a dificuldade dessa prática em algumas comunidades. Imediatamente encontramos alternativas para essa contribuição, como por exemplo, a de levar o avô ou a mãe para contar uma história na roda. O importante é fugir do estigma de carente, possibilitando que todos sintam que têm algo a compartilhar.

De Independência, onde eu nasci, recebo da ong História Viva a notícia de que a Festa do Saci está acontecendo em algumas escolas desde a segunda-feira passada (25) e se estenderá até amanhã (29), por onde tem circulado um boneco do Saci feito pelo artista plástico DIM. A brincadeira tem base em um projeto pedagógico e recreativo preparado pela professora Maria Irandir Bezerra Sabóia, no qual estão sugeridas atividades de recorte e colagem, caça-palavras, boca de forno e cabra-cega, na perspectiva do Saci como mito ecológico e cultural.

O redemoinho continua puxando o outro também nos três dias de Festa do Saci que a Aldeia Luz realizará na Biblioteca Pública e na Casa de Juvenal Galeno, entre os dias três e cinco de novembro, dentro do calendário oficial do Departamento de Patrimônio Imaterial da Secult. Como nos anos anteriores, as ações sacizísticas contarão com teatro de boneco, oficina de desenho, distribuição de gorros e camisetas, cordéis com histórias de Saci e uma palestra com o jornalista Vladimir Sacchetta, o saciólogo que me iniciou nessas e em outras reflexões lobatianas.

Quem acompanha meu trabalho sabe o tanto de valor que atribuo a essa ideia contemporânea de liberdade que é a Festa do Saci. A liberdade de ser o que somos, de ser uma sociedade tomando consciência de si. Criei dois conceitos como contribuição para esse debate: a) Sacizada é um ajuntamento alegre, divertido, crítico e contemplativo de pessoas e mitos populares; e b) Saciologia é uma ciência humana que reflete os saberes e as crenças resultantes da relação da cultura mestiça brasileira com a natureza, por meio das leis da imaginação.

É maravilhoso ver um personagem como o Saci, aglutinando amigos de lendas para a sua festa, mas é mais animador ainda observar cada criança inventando o seu próprio personagem e enchendo a festa de seres que não existem. O grande luxo de uma Festa do Saci é aprender a brincar com ele “sem ele”, exercitando a imaginação na sua forma mais espontânea, no limite da criatividade do brincante.

O Robson Moreira, presidente da Sosaci, me contou meses atrás em uma conversa na calçada do Patbanda, na Vila Madalena, em São Paulo, que ensinou seus netos a pegar Saci, só para brincar e depois soltar. Segundo ele, a gente não vê quando o Saci passa em nossa frente porque o danado aproveita exatamente o momento em que piscamos os olhos para passar. Então, ele inventou de rapidamente fechar à mão diante dos olhos no momento em que a pálpebra fecha e pegou um Saci. Passou a dica para a criançada e tem muito moleque pegando Saci para brincar.

No domingo (31) vai ter homenagem ao Dia do Saci também no Centro Cultural Dragão do Mar, às 16 horas, dentro da programação "Pintando e Brincando no Dragão". É o redemoinho passando, enquanto aprendemos a fazer a festa uns com os outros. Uma das maiores dificuldades que tínhamos para fazer a Festa do Saci em nosso condomínio era a de conseguir copo biodegradável. Até que comentando isso com a Mônica Yoshizato, mestranda em ciência ambiental na USP, ela sugeriu que solicitássemos às crianças que levassem seus próprios copos. Depois ela me disse que inspirada na nossa Festa do Saci havia proposto para a escola do filho dela o “amigo secreto sustentável” (com brinquedo usado) para o Natal. Deu certo cá e deu certo lá... um redemoinho puxa o outro.

flaviopaiva@fortalnet.com.br
www.flaviopaiva.com.br
www.diariodonordeste.com.br

Quem disse que ele não exite?
Revista Ecopistas/ Out 2009

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"Vejo Saci toda hora"
Revista Veja - nº43 - 28 de outubro de 2009

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Festa do Saci em Mogi das Cruzes (SP)
O Diário - 27/10/2009

27.out.2009 Redação
Eventos em praça festejam o Saci

Foto: Diego Barbieri

PARTICIPAÇÃO Na programação de hoje do Tem Saci na Praça, o músico Serginho Machado rege o coral da Escola Municipal Professora Etelvina Cáfaro Salustiano.

Uma das figuras mais populares do folclore brasileiro ganha uma semana inteira de atividades na Cidade. Até sábado, a Secretaria Municipal de Cultura promove o projeto Tem Saci na Praça!, com diversas atrações na Praça Oswaldo Cruz (confira a programação completa nesta página). A meta é promover um resgate da mitologia e da cultura popular. A programação de hoje será aberta pelo coral da Escola Municipal Professora Etelvina Cáfaro Salustiano, que se apresenta a partir das 14 horas.

Sob a regência do músico Serginho Machado, 40 crianças que cursam a terceira e quarta séries do ensino fundamental interpretarão canções como "A Casa", de Vinícius de Moraes, "Os Peixinhos do Mar", do folclore brasileiro, "Maria Adolescente", de Serginho Machado, "Aquarela" e "O Caderno", de Toquinho, "O Cio da Terra", de Milton Nascimento e Chico Buarque, e "Superfantástico", do Balão Mágico. "São canções que estão relacionadas com a memória afetiva das crianças", explica Machado.

Desde março ele tem ensaiado com 74 alunos da escola, dentro de um projeto resultante da parceira das secretarias de Cultura e Educação. Para ele, iniciativas como o Tem Saci na Praça! são essenciais para estimular a valorização das artes populares. "Tudo o que for feito para valorizar a cultura local e, por que não, o turismo, deve ter o apoio dos artistas e da população", acredita.

Na sexta-feira, Serginho Machado retorna à Praça Oswaldo Cruz às 16 horas, para um show solo. No repertório, entre outras canções estarão presentes "O Saci", do grupo Mucunã, e "Reunião dos Curupiras", de Vital de Souza.

Ao longo desta semana, o público poderá conferir, ainda, uma exposição artística com o Grupo Frontispício, que trará quadros e produzirá outros ao vivo, demonstração de técnicas de manuseio de cubo mágico, contação de histórias, palestras e teatro, entre outras atividades.

Saci

Lenda tipicamente nacional, o Saci Pererê teve origem nas tribos indígenas do sul do Brasil. Sua imagem mais conhecida é a de um jovem que possui apenas uma perna, usa um gorro vermelho e sempre está com um cachimbo na boca. Inicialmente, ele era retratado como um curumim endiabrado, com duas pernas, cor morena, além de possuir um rabo típico.

A partir da influência da mitologia africana, o Saci se transformou em um jovem negro que perdeu a perna lutando capoeira, além disso, herdou o pito, uma espécie de cachimbo e ganhou da mitologia europeia, um gorrinho vermelho.

A principal característica do saci é a travessura. Brincalhão ele se diverte com os animais e com as pessoas, muito moleque ele acaba causando transtornos como: fazer o feijão queimar e esconder objetos. Para capturá-lo, é preciso jogar uma peneira sobre os redemoinhos de vento, onde geralmente ele é encontrado.

Por meio da cultura oral, a lenda foi se perpetuando. Porém, o personagem chegou aos grandes centros urbanos com a ajuda da literatura, da televisão e das histórias em quadrinhos. A série de livros "Sítio do Picapau Amarelo", de Monteiro Lobato, contribuíram muito para que o personagem se popularizasse ainda mais. Quem não se lembra, por exemplo, das travessuras do Saci na cozinha de Tia Nastácia ou ainda das tentativas de Pedrinho em prendê-lo em uma garrafa.

No Brasil, o Dia do Saci é comemorado em 31 de outubro, como uma forma de contrapor o Halloween americano.

Mais informações pelo telefone 4799-4040.

UOL Notícias - Cotidiano - 14/09/2009 

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O Design do Saci
Revista Brasileira de Design, ed. 21 - Set 2009

​​O design do Saci
Daniel Brazil

Em janeiro de 1917 o escritor Monteiro Lobato, nas páginas do Estado de São Paulo, propôs uma pesquisa sobre o saci. Pedia que as pessoas enviassem cartas narrando ocorrências, episódios, "causos" sobre o mítico personagem.

Monteiro Lobato não sacou a história do nada. Intuiu um grande personagem a partir de relatos esparsos, muito disseminados no Vale do Paraíba (SP), onde nasceu. O duende pretinho de uma perna só, no entanto, é um típico exemplo de miscigenação, reunindo elementos de várias culturas em sua representação.

Os guaranis (1) contam histórias de um pequeno índio meio mágico, com o poder de se tornar invisível, que vive nos bosques e protege os animais, escondendo-os dos caçadores. Seu nome é Cambai ou Cambay, e curiosamente ele tem uma perna torta, e anda manquitolando. Vem daí a expressão cambaio, que em português significa manco.

É provável que a tradição guarani tenha sido adotada pelos escravos de origem africana. Para justificar objetos desaparecidos e pequenas traquinagens das crianças, nada melhor que um duende nativo invisível. Processado pela tradição oral ele se tornou negro, e passou a ser descrito com o barrete frígio vermelho, símbolo da liberdade, adotado pelos republicanos franceses que lutaram pela queda da Bastilha, em 1789.

América, África e Europa. Estava pronta a mistura capaz de definir um símbolo da nova cultura brasileira. Monteiro Lobato, grande nacionalista, é considerado com justiça o maior criador de sacis do século XX. Milhões de brasileiros leram ou ouviram suas histórias, e difundiram as peripécias do pequeno unípede nas conversas em torno da fogueira, nas salas de aula ou na cabeceira da cama. Nos anos 1960, o desenhista Ziraldo lançou sua versão de Saci Pererê em quadrinhos, com grande sucesso, até hoje lembrado.


A explosão midiática ocorrida a partir dos anos 1960, com a expansão da TV e a globalização dos meios de comunicação, fez com que uma nova onda cultural, globalizante e padronizada, invadisse o terreno da fantasia infantil com novos mitos. Fadas, duendes, dragões, elfos e elementais passaram a ocupar o lugar do saci e outros mitos brasileiros, como a mula-sem-cabeça, o boitatá e a iara, nossa sereia das águas doces.

No final dos anos 1990 um grupo de pessoas, preocupadas com a quase extinção do saci, criou a Ancsaci, Associação Nacional dos Criadores de Saci. Sediada em Botucatu, e tendo como patrono Monteiro Lobato, partia do princípio de que cada vez que você conta uma história de saci para uma criança, você está criando um novo saci, e assim ele se perpetua.

O movimento se expandiu nos meios acadêmicos, propícios a embates culturais. Em Botucatu, virou Festival Nacional do Saci, que acontece todo mês de agosto. Em outras cidades foram criados núcleos de defesa do folclore, envolvendo educadores, artistas e simpatizantes. Várias escolas, ocupadas pela invasão do Halloween, de origem americana, fizeram ações de recuperação do saci, com bons resultados.

Em 2003 foi fundada a Sosaci - Sociedade dos Observadores de Saci -, em São Luiz do Paraitinga, que promoveu diversas ações de impacto. O município criou o Dia do Saci, sendo seguido por outros, inclusive a capital do estado, São Paulo. Estabeleceu-se o dia 31 de outubro (data do Raloim gringo) como data de combate aos estrangeirismos, simbolizado pelo simpático perneta. Seus sócios acham que criar saci significa aprisioná-lo, por isso defendem a observação em seu habitat natural.

Mas o que isso tem a ver com design, objetivo principal desta revista? Primeiro, obviamente, por se tratar de um embate cultural, entre uma criação autóctone e valores disseminados sem critério pelos meios de comunicação.

Segundo, porque o saci vem sendo cogitado como símbolo da Copa do Mundo de 2014, sediada no Brasil. Grupos se mobilizam pró e contra, outros personagens aparecem, como o Pelezinho, de Mauricio de Souza. Uns dizem que seria ridículo um personagem deficiente representar o futebol, e argumentam que seria melhor adotá-lo nas Paraolimpíadas.

Há nesse raciocínio um grande erro conceitual. Ao saci, não falta uma perna. Na verdade, ele tem uma perna! Não ocorre a ninguém que uma cobra ou um peixe sejam seres "defeituosos" por não terem pernas. Ao saci, com seu design biológico perfeitamente adaptado ao meio em que vive, não falta nenhum membro. Ele se movimenta com mais agilidade e eficiência num bambuzal, onde se reproduz, que qualquer ser humano.

Desnecessário lembrar quantas criações exemplares do design se firmam sobre apenas um pé. Abajures, taças, pedestais e amplificadores são exemplos de elegância e precisão. Muitos fotógrafos preferem o monopé ao tripé, por sua leveza e praticidade. Cadeiras profissionais sofisticadas, como as de dentista ou de barbeiro, se assentam sobre um único e suficiente pé.

Em um artigo publicado na revista Experimenta (2), o designer italiano radicado em Madrid, Pierluigi Cattermole, justifica conceitualmente a criação de uma luminária de leitura com a ilustração de um curioso ancestral do saci, encontrada por ele num livro de História. Um ser estranhíssimo visto pelos primeiros exploradores do extremo sul do continente americano no século XVII. Foi chamado de patagon, "grande pata, pezão", e usava o pé para se proteger dos raios solares.

Um saci hermano, típico ancestral do nosso saci, mais uma prova documental de que ele é de origem sul-americana. Nosso caro Pierluigi, estudioso da teoria do design, demonstra, talvez sem o saber, ser um legítimo criador de sacis. Ou observador, como querem os bravos militantes da Sosaci.

Comentários 

Almir Almas
2009-09-20 08:48:30
Daniel, muito bom. muito bom. o saci é perfeito. 

Carlos Mauro
2009-09-20 08:13:19
Muito bom o artigo, Daniel. Essa história de que o saci é deficiente por que tem um só pé é uma coisa de louco... afinal, por definição, saci tem um pé só...se tivesse dois, aí é que seria deficiente... Quem inventou essa história só pode ser ruim da cabeça ou doente... do pé!

Cachoeira
2009-09-19 09:49:09
Grande Daniel, maravilha de texto, viva o Saci, e em tempos de Dunga com sua ode aos pernetas, o Saci, com certeza, tal como os diversos acrobatas da bola que encontramos pelas ruas com suas intermináveis embaixadas, será o melhor mascote para 2014, roguemos aos designers que criem um belo Saci boleiro!!! Gde Abs.

Medina
2009-09-18 21:43:51
Dá a dez pro Saci!

Neuzza Pinhero
2009-09-18 21:15:29
seu texto vem-que-vem, feito pluma no pulso do vento leve Sempre fico tão feliz quando leiomeenleio sim, sim, como diz o Fábio, viva o Saci, a Medusa, Shiva e todo o panteão dos mitos, Origem! abçs admirados! 

Fábio Brazil
2009-09-18 18:40:23
Daniel, sempre uma delícia ler seus textos - com uma capacidade de pesquisar o "inútil" de dar inveja à Ciêcia Inglesa. Só um reparo, sob o olhar dos católicos, às cobras, faltam pernas e braços, perdidos pela ancestral Serpente lá no Édem. Por isso, católicos morrem de medo delas, que sob essa ótica, buscariam vingança, claro. Você tem toda razão! O Saci tem o número de pernas que precisa ter, como Shiva tem o número de braços que precisa ter e a Medusa os cabelos que merece. abs, Fábio. 

Caipiras resgatam histórias do Saci-pererê (Rádio Nederland, emissora internacional e idenpendente da Holanda)

Railda Herrero e Mario de Freitas
06-11-2008

Em meio a bambuzais, capim e plantações de eucalipto de uma região serrana de São Paulo está São Luis do Paraitinga, entre a Taubaté de Monteiro Lobato e Ubatuba, no litoral norte. Há cinco anos, essa pequena cidade que jura ser berço do saci-pererê abre sua praça principal para uma grande festa popular que comemora o Dia do Saci. Os festejos ocorrem sempre em torno do dia 31 de outubro, quando muitos lugares do país preferem abrir as portas para as bruxas vindas do hemisfério norte.

Nessa região, onde a cultura caipira é bastante preservada, o saci-pererê faz parte do cotidiano de muitos moradores, que conhecem bem as histórias do menino negro de uma perna só, reinando nas matas, pulando e fazendo estripulias.

Com a valorização da cultura caipira, as presepadas do malasartes deixaram de ser coisas dos antigos e ganharam as praças. Elas estavam enfeitadas com artesanatos em chita e nas cores do personagem, o negro e o vermelho.

A cada ano, cresce o número de participantes da festa. A animação desse ano foi a prova de que a cultura caipira parece estar saindo da roça para a cidade.

Turistas vindos da capital e de outras cidades do interior paulista em busca de novas trilhas para cachoeiras limpas visitam a cidade histórica e se aprofundam nas raízes culturais.

São Luís do Paraitinga conta com edifícios bem talhados no século 18, quando o café imperava na região. Em meio às fazendas com casarões brancos e janelas azuis, o escritor Monteiro Lobato recolheu as histórias populares e deu vozes a personagens como o saci-pererê, desde o início do século passado.


Causos 
Todos os anos, Geraldo Alves da Silveira, o artesão Geraldo Tartaruga, vai à festa na praça central de São Luis para contar as histórias do saci-pererê. Ele tem um causo para explicar como o saci surgiu na região: "Havia um grupo de dez sacis, que vivia numa fazenda com um fazendeiro muito mau. Tinha saci de todo tipo, malandro, bagunceiro, reinador, briguento, como qualquer moleque. Um dia o fazendeiro desapareceu e os sacis também desapareceram e ninguém sabe pra onde foram. Com o tempo, começaram a aparecer em estradas, para tropeiros e cargueiros, que davam pinga para os sacis. Com o tempo, foram acabando as tropas, foram aparecendo os carros e eles não foram mais aparecendo nas estradas. Mas continuaram aparecendo para os pescadores, assombrando fazendas, destruindo criação pequena, que sumia das fazendas, tirava ovo da galinha que estava chocando..." 

 

Na trilha do perneta 
A Sociedade dos Observadores de Saci (Sosaci), fundada em 2003, é uma das promotoras da festa, que conta com as marchinhas do Bloco do Saci, puxado pelos bonecos criados por um artesão popular: o Zé Paulino e Angu, um casal gigante com cara de pererê.

Mário Cândido, que presidiu a Sosaci por cinco anos, diz que, apesar do saci ter nascido entre os indígenas do sul do país, tem bastante influência na região porque é onde a cultura caipira está bastante preservada.

Mas o mito não se restringe aos bambuzais da área: está cada vez mais se fortalecendo nacionalmente e vai ser o mascote da Copa de 2014, se depender da campanha da Sosaci.

O grupo de observadores do saci cresce a cada dia e ganha terreno internacionalmente. Já manteve, através do site www.sosaci.com.br contatos até com a Sociedade dos Observadores do Monstro do Lago Ness, na Escócia, que propôs uma parceria com os amigos do perneta.

Mudanças 
Nos altos de muitos morros pelados da região de São Luis, ocupados antes por capim para alimentar o gado leiteiro, florescem agora plantações de eucalipto, para alimentar duas fábricas de papel não muito distantes.

Essas mudanças estão afetando o imaginário popular, mas os mitos resistem e as diversas festas locais mostram que não falta entusiasmo na defesa da cultura local.

Guardião da floresta 
O saci-pererê congrega elementos de diversas raças, tal como o povo brasileiro. Tem diferentes formas e faz diferentes traquinagens, de acordo com a região do país.

Nascido há 200 anos no sul do país, na fronteira com o Paraguai, e de origem guarani, o guardião da floresta incorporou feições africanas e um pito de preto velho com a chegada dos escravos.

Dizem que perdeu uma perna na luta contra o cativeiro e ganhou o piléu vermelho, emblema da liberdade na Roma antiga, com a chegada dos imigrantes europeus no Brasil. Em diferentes regiões do país, o saci pode ganhar outros nomes e outras feições, de acordo com a cultura local.

Pulando em uma perna só, com destreza, o saci-pererê vai pitando seu cachimbo, aprontando estripulias e assustando os moradores do interior brasileiro, que sempre juram ter visto o menino safado.

Entre suas brincadeiras favoritas está fazer trancinhas na crina de cavalos, roubar tabaco de cachimbos, embaraçar linhas, azedar leite, gorar ovos, espantar animais. O menino brincalhão foge ou pode aparecer no meio de um redemoinho. Nem bom nem mau, apronta muito e pode até dar lições de moral, conforme Geraldo Tartaruga conta no causo dos dois irmãos.

Dia do Saci
Enquanto tramita no Congresso Nacional um projeto de lei para tornar nacional o Dia do Saci, o fenômeno vai ganhando o país, pulando em uma perna só.

A data, já comemorada oficialmente em muitos municípios, será 31 de outubro, para se contrapor ao Dia das Bruxas, ou Halloween, que se espalha com apoio das escolas de inglês no país.

A idéia de uma data comemorativa partiu da Sosaci para resgatar mitos locais e difundir o folclore. Com manifestações culturais nesse dia, o grupo quer sensibilizar pais e educadores sobre a necessidade de redescobrir as tradições populares, garantindo alternativas lúdicas e divertidas às crianças e aos jovens, frente à invasão cultural com cara de bruxas e abóboras monstruosas. Os integrantes do grupo dizem que "raloim só se for com carne seca".

Opinião(ões):

Mouzar Benedito, 14-11-2008 - Brasil

Parabéns, Railda e Mário.. A reportagem de vocês foi muito boa e mostra bem que há um movimento real de defesa da nossa cultura. E incluir as histórias do Geraldo Tartaruga foi enriquecedor.


Janette Lap, 13-11-2008 - Holanda

Maravilhoso programma, gostei muito das histórias contadas pelo seu Geraldo.


Oswaldo Macedo, 11-11-2008 - Brasil

A REPORTAGEM DA RN FOI MUITO OPORTUNA AO MOSTRAR UM POUCO DA NOSSA CULTURA CONTRAPONDO A A ACULTURAÇÃO TRAZIDA PELOS CURSOS DE INGLÊS, COLOCANDO O DIA DAS BRUXAS COMO UMA DATA IMPORTANTE DENTRO DA NOSSA CULTURA CAIPIRA. 

Global Voices em Português

Dia do Saci é comemorado amanhã (O Diário - Mogi - SP)

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30.out.2008 Redação
Foto: Divulgação

NA TELINHA Figura do Saci é uma das principais na obra do escritor Monteiro Lobato, transformada em série exibida pela TV Diário até dezembro de 2007.

Muitos celebrarão amanhã o Halloween - Dia das Bruxas. Fantasiadas, as crianças confeccionarão suas abóboras, pedirão doces e aprontarão travessuras. Porém, poucos sabem que esta data também é dedicada a um importante personagem do folclore brasileiro: o Saci Pererê. Figura presente em inúmeras histórias do Sítio do Pica-Pau Amarelo escrito por Monteiro Lobato, obra por duas vezes adaptada para a televisão, ainda permanece no imaginário das pessoas.

Desde 2004, uma organização trabalha a fim de difundir a homenagem ao Saci, divulgando pesquisas e causos sobre o tema. Intitulado Sosaci, este grupo ganha, a cada ano, número maior de adeptos. Um deles é o mogiano José Carlos Leite. Saciólogo - termo designado para os estudiosos da área-, ele lamenta a falta de eventos na Cidade com objetivo de exaltar os mitos e personagens da cultura brasileira.

"Mogi das Cruzes é histórica, um terreno fértil para fomentar os mitos folclóricos. Temos aqui a Festa do Divino, uma tradição secular. Se a administração cultural trabalhar a temática em poucos anos veremos em eventos relacionados ao Saci", aposta Leite. Ele ainda destaca a importância do personagem dentro do folclore nacional. "Diferente de outros mitos, o Saci é nacionalmente conhecido. Não há versões diferentes para cada região", avalia o saciólogo.

Segundo Leite, manter viva a história deste mito também é uma forma de preservar a cultura caipira. Exemplo deste raciocínio são os eventos promovidos para comemorar o Dia do Saci em cidades interioranas, como São Luís do Paraitinga. "Neste final de semana, uma programação especial, com modalidades esportivas, será realizada por lá. É interessante, movimenta a cidade e todo mundo tem uma história para contar sobre o personagem", revela ele, sem esclarecer se viu ou não, um Saci.

Confrontar em uma mesma data duas culturas distintas, para o saciólogo, é questão de democratização, reflexo de um mundo globalizado. Porém, ele deixa clara a diferença entre a celebração de uma e outra. "O Dia das Bruxas, de certa forma, foi imposto com a constituição das escolas de inglês. Essa coisa de cultuar o estrangeirismo é complicada, um estímulo à sensação de que o de fora é melhor que o nosso", observa Leite.

Outra barreira a ser superada na luta pela difusão e celebração do Dia do Saci é a mudança de comportamento das crianças. O acesso a informações de todo planeta por meio da internet, a televisão a cabo, os videogames e os desenhos animados importados estão muito presentes no cotidiano desta faixa etária. Bem diferente daquelas que subiam em árvores, brincavam na rua e tentavam caçar Sacis, estimuladas pelo mundo fantástico apresentado nas histórias de Monteiro Lobato. Recentemente, o público infantil teve a oportunidade de manter contato com o personagem na adaptação do "Sítio do Pica-Pau Amarelo", transmitido durante as manhãs pela TV Diário, até dezembro de 2007.

"A modernidade é fato. As crianças estão cada vez mais afastadas da natureza, dos ambientes rurais. Ainda assim, existem muitas pessoas, organizações interessadas em estimular a cultura popular, eternizando o folclore", conclui o saciólogo.

TV da Vila apresenta "Sacy na Capoeira"

SACYZADA 2007 CLIPE 'SACI NA CAPOEIRA' Olha só o que a TV DA VILA preparou pra você!

Um Clipe com imagens da SACYZADA, semana de estudos e vivências da cultura brasileira, que acontece todo ano no Espaço Cultural Vila Esperança. A música 'SACI NA CAPOEIRA' é de autoria do cantor e compositor goiano Adalto Bento Leal que a dedica aos seus amigos da Vila Esperança.

Caçador jura ter visto Caipora

Fortaleza, CE, 22 de agosto de 2007
Caderno Regional

Dia do Folclore

ANTÔNIO VICELMO
Repórter

No Cariri, as figuras de lendas e mitos povoam a imaginação do povo, enriquecendo o universo do folclore Assaré. Hoje, Dia Nacional do Folclore, vale resgatar uma das mais conhecidas lendas do Nordeste, a Caipora, uma entidade que ainda hoje .


"vagueia nas matas do Cariri" ou, pelo menos, na imaginação do povo. No alto da Serra do Quincuncá, município de Assaré, um caçador "jura pela própria alma" que viu uma Caipora. A lenda é explicada por professores e pesquisadores do assunto.

O caçador José Soares , conhecido por "Zé Mago", residente na Serra do Quincuncá, jura de mãos juntas que já viu uma Caipora. "Eram seis horas da tarde de uma sexta-feira, dia ruim de caça. Eu já estava voltando para casa, quando apareceu uma menina morena, baixinha, com os cabelos compridos. "Os outros caçadores disseram que era uma Caipora". Ao fazer a descrição, Zé Mago diz que outra vez estava em cima de uma árvore, numa espera de veado, quando apareceram dois "caboclinhos", cortando a árvore onde estava.

Ao presenciar a cena, o caçador diz que ficou assombrado e voltou para casa. No outro dia retornou ao local, levando um pedaço de fumo, e a árvore estava do mesmo jeito, isto é, não tinha sido cortada. Desse dia em diante, ele não viu mais a Caipora, mas sempre escuta o assobio dela. Garante que teve noticia de que a figura lendária deu uma grande surra num parente seu. Além da Caipora, o velho caçador diz que já viu uma tocha de fogo vermelha. Noutra oportunidade, conta que viu um reflexo parecido com um relâmpago.

A narração de Zé Mago é confirmada pela Mestre da Cultura, Zulene Galdino, que, segundo afirma, quando era criança conviveu com uma Caipora. Nascida e criada na Serra do Araripe, Zulene vivia a maior parte do tempo dentro do mato se alimentando de frutas e bebendo água na fonte do coqueiro. Era lá que ela se encontrava freqüentemente com uma caboclinha baixa, de voz fanhosa, que ela imagina: "Era uma Caipora".

Vida na floresta

Deuses, heróis e personagens sobrenaturais se misturam com fatos da realidade para dar sentido à vida e ao mundo. No imaginário popular em diferentes regiões do País, a figura da Caipora está intimamente associada à vida da floresta. Ela é a guardiã da vida animal. Apronta toda sorte de ciladas para o caçador, sobretudo aquele que abate animais além de suas necessidades. Afugenta as presas, espanca os cães farejadores, e desorienta o caçador, simulando os ruídos dos animais da mata. Assobia, estala os galhos e assim dá falsas pistas fazendo com que ele se perca no meio do mato.

Pela crença popular, é sobretudo nas sextas-feiras, nos domingos e dias santos, quando não se deve caçar, que a sua atividade se intensifica. Mas há um meio de driblá-la. A Caipora aprecia o fumo. Assim, reza o costume que, antes de sair na noite de quinta-feira para caçar no mato, deve-se deixar 
fumo de corda no tronco de uma árvore e dizer: "Toma, Caipora, deixa eu ir embora".

O QUE ELES PENSAM

Riqueza do imaginário regional e popular

O imaginário popular nos remete a um mundo riquíssimo de valores, revelando sentimentos que desabrocham em mitos, lendas, crendices, superstições. Alguém já afirmou que a cultura é expressão, em diferentes formas, dos valores e crenças de um povo. É o caso da Caipora, lenda bastante divulgada a partir dos primitivos habitantes desta terra: os indígenas. Ela virou um 
dos nossos mitos, transformou-se no senso comum coletivo, divulgado no bojo das informações transmitidas há cinco séculos.

 

Armando Lopes Rafael Historiador

A Caipora é fruto do imaginário regional e popular, um mito sobre a relação homem/natureza transmitido oralmente. Compreendido assim, não obedece à lógica da razão ou de algumas ciências. É intuído, não necessita de provas para ser aceito. A sua aceitação ocorre através da crença e da fé no mítico. Não é uma aceitação racional, mas adéqua o homem ao mundo. A Caipora tem sua importância real ao conter a ação humana sobre o meio em que vive e explora. Mito e razão no mesmo espaço.

Miralva Ferreira Guedes
Professora graduada em Letras

"Eu vi uma Caipora." Quem já não ouviu esta história de alguém! Eu mesmo já ouvi muitas vezes. A pessoa conta com toda convicção que viu uma Caipora, um lobisomem, uma alma ou outra assombração qualquer. Estes fantasmas fazem 
parte do imaginário popular. As pessoas cresceram ouvindo falar neles. A mente humana é capaz de criar certas visões irreais, mas que parecem ser verdadeiras. O medo e a impressão fazem parecer estes fantasmas e quem os vê não está mentindo.
 

Eugênio Dantas
Professor de Filosofia e Sociologia

Origem é indígena ou européia

Assaré. O folclore brasileiro é rico de lendas e mitos que povoam o imaginário popular. Os relatos da literatura oral se perpetuam pela palavra falada ou pelas cantorias. São casos, lendas, anedotas e mitos de criação coletiva. Os principais personagens têm origem indígena ou européia. No Cariri, estas tradições são mais fortes em razão da presença de romeiros de todo o Nordeste que aportaram arrastados pela fé no Padre

Cícero, carregando hábitos, costumes e crenças.

As lendas são estórias contadas por pessoas e transmitidas oralmente através dos tempos. Misturam fatos reais e históricos com acontecimentos que são frutos da fantasia. As lendas procuraram dar explicação a fatos sobrenaturais.

Como os povos da antigüidade não conseguiam explicar os fenômenos da natureza, através da ciência, criavam mitos com o objetivo de dar sentido às coisas do mundo. Os mitos também serviam como uma forma de passar conhecimentos e alertar as pessoas sobre perigos ou defeitos e qualidades do ser humano.

Estas histórias fazem parte de um vastíssimo conjunto de tradições populares, que desde o século XIX são alvo de intenso interesse e controvérsias entre antropólogos e estudiosos em geral. Uma das primeiras questões que aguçam a curiosidade é saber sobre a origem, embora muitas vezes os elementos estejam tão mesclados e se transformaram de tal forma que fica impossível localizar a fonte original. Nesta relação homem, Caipora e natureza, segundo o professor Eldinho Pereira, cabe uma reflexão. No começo, o mito provoca medo. Antes de derrubar a primeira árvore e atirar num pássaro, o homem temia a Caipora. Em seguida, passou a negociar com ela, oferecendo-lhe fumo. Hoje, já não existe este temor. Em conseqüência, aumenta a devastação. A Serra do Quincuncá, por exemplo, vem passando por um forte processo de desmatamento. Eldinho sugere a Caipora como símbolo das campanhas de preservação da natureza.

Vale Viver - Vale Paraibano (SP)

Reflexões Folclóricas
Só-saci - sociedade dos observadores de saci

Personagem traquinas e alegre está no folclore de várias partes do mundo, como na Inglaterra e Alemanha
Ruth Guimarães

Toda a gente sabe que o Saci é preto, que tem uma perna só, que usa gorrinho vermelho, que fuma no cachimbo, que é moleque, que assobia e às vezes é um tapuio manco, com uma ferida em cada joelho. Quem nunca teve notícia dele, leia o Saci, de Monteiro Lobato.

Ele pertence aos mitos da infância. Em todos os folclores vamos encontrá-lo menino traquinas, alegre, isento de maldade. Existem outros duendes brasileiros com essas mesmas qualidades e o mesmo vamos dizer carisma em popularidade do Saci. Não falamos do Negrinho do Pastoreio que é menos Saci do que Santo. E mártir ainda por cima, o que lhe empresta outro perfil e nos comove de outra maneira. Existe o São Campeirinho ou Campeirinho Negrinho, mais ou menos como o santo do Pastoreio. E o duende Januário que também encontra coisas perdidas, nas Missões, do Rio Grande do Sul.

Saci, que esse diabinho com sua feição particular de autor de malfeitorias miúdas, está em todos os folclores. É um arquétipo por demais freqüente esse estranho ser imaginário, que não é bom nem mau, e sempre procede como criança travessa. É o Puck, da Inglaterra, Kobold na Alemanha, Troll, na Suíça, Goblin e Lutin, na França.

 

Gnomo dos contos de Grimm (inspirador dos sete anões de Disney). Gnomo germânico do Reno. O Homenzinho Cinzento da Silésia. Follet, o demônio catalão. Blue Devil, escocês. Fradinho e Manquinho, em Portugal. Zangão, também luso. Mandinga e Saci, na América do Sul. Diabo Burlão nas Astúrias. Diabinhos são os Brownies irlandeses, os Anões da Bretanha, e os sátiros da mitologia grega. Em todos os povos usam eles gorrinhos vermelhos. Suas características são as mesmas do Saci: pequenos, vivazes, irrequietos, turbulentos, prestativos e leais. Na Espanha andam vestidos de vermelho.

Fazem artes como qualquer criança. Provêm, quem sabe? do fogo, e têm do mito do fogo, a vivacidade: são vermelhos, chispantes, inquietos, como labaredas vivas.

Estamos servidos de deuses populares que se misturam ao povão e são questionadores. Um desses santos, canonizados outra vez pelo povo, que lhes emprestou uma personalidade mais próxima da maneira de ser da sociedade em que vivemos é São Benedito. Santo birrento, quer porque quer ficar na frente de todos, quando sai a procissão. Conta-se e acredita-se que se ele não ficar com seu andor à frente de todos, chove. Daí se observar que o andor do santinho negro puxa a fila dos andores. A igreja fecha os olhos para essas ninharias populares, muito arraigadas, e assim é comum ver-se essa disposição, nas procissões. O costume faz a lei. Quem vai mudar nestas alturas o costume? Demais está aí o castigo: chove, e acaba a festa.

Pois São Benedito certa vez deu uma ensinadela no Saci. Foi o seguinte:

O Saci se pôs numa cabeça de ponte e toda gente que passava ele fazia tropeçar, escorregar, cair, qualquer coisa ruim. E depois ria a morrer. Quem andava por ali, ouvia o rumor das risadas, ecoando por entre os bambuais, planta de que o Saci gosta muito e que dizem foi o seu berço natural. Então, aconteceu que São Benedito precisou passar pela ponte e viu o coisinha, que é invisível para os outros, fazer tais proezas.

 

Apanhou-o e o pendurou na grade da ponte, de cabeça pra baixo, e foi embora. E desde esse dia, de cabeça pra baixo, na ponte, pergunta a cada um que sucede passar por ele:

- Vocês não viram o Benedito por aí?

Nós, os observadores do Saci, que nele acreditamos, que com eles brincamos em pequenos, e que estamos dispostos a defendê-lo, somos chamados de saciólogos.

RUTH GUIMARÃES escreve neste espaço às quartas-feiras

Correio Popular
Campinas (SP)

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Dia do Saci em Florianópolis Diário Catarinense

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